domingo, 19 de outubro de 2014

Flexibilidade, decisões e a procura do equilíbrio

A minha procura pelo equilíbrio continua.
É um caminho longo, com curvas, cruzamentos e decisões. Não é fácil, mas tomar decisões que saem um pouco da "normalidade" nunca é.
Apesar do meu blog só ter receitas vegan, quando me perguntam se sou vegan a minha resposta é que sou semi-vegetariana. Já quis ser e já fui vegan, mas tive que voltar atrás em alguns alimentos que tinha deixado de comer por necessidade das circunstâncias, como por exemplo nas férias de verão no Algarve.
Não gosto de rótulos (rótulos nas pessoas, entenda-se). Nunca gostei e não era agora que ía começar a gostar. Acho que as pessoas são individuais e são livres de escolherem a maneira como vivem, como comem, como falam, como agem, desde que não firam ou ocupem a liberdade dos outros, o espaço dos outros. E não gosto de rótulos. Não quero ter que me definir consoante rótulos que alguém um dia inventou para quem come isto ou aquilo ou não come isto ou aquilo.
Sou flexível, ainda estou a procurar o meu equilíbrio e o que me faz sentir bem, e sei que não vai ser dentro de uma dessas definições.
Há alimentos que sei que não quero comer de novo, há outros que sei que vou comer de vez em quando, por força das circunstâncias, e sei que quero fazer uma alimentação o mais possível vegetal. Porque é assim que me sinto melhor.

Nas férias de Verão terminei finalmente de ler "O Dilema do Omnívoro". O livro é enorme por isso demorei uns meses a terminá-lo, mas é muito interessante e faz pensar em muita coisa. Um aspecto que passei a encarar com outros olhos foi que os animais são necessários para termos uma agricultura sustentável. Para não se utilizar fertilizantes químicos, o melhor fertilizante que existe é mesmo o estrume, e para isso são necessários os animais. O meu problema em comer animais é o serem criados exclusivamente para serem abatidos, a forma como vivem, a forma como são abatidos, se sofrem ou não. Isso é que é essencial para mim. Não quero causar sofrimento para que eu me possa alimentar.

Uma certeza que continuo a ter é que não precisamos de comer carne ou peixe todos os dias. Não é necessário, não é saudável e não é sustentável. Porque se todos o fizermos é inevitável ter este círculo vicioso (a pescadinha de rabo na boca) que é para todas as pessoas poderem comer carne ou peixe todos os dias é preciso pescar ou criar animais de forma intensiva, o que irá por sua vez poluir o planeta de forma irremediável e levar ao seu esgotamento.
Quanto mais se produz, mais se tem que baixar o preço para incentivar a procura, maior se torna a procura com exigência de preço baixo, para manter esse preço baixo é preciso reduzir os custos, produzindo de forma mais intensiva e massiva, aproveitando economias de escala e recorrendo a aditivos químicos e artificiais cada vez mais baratos. É um ciclo vicioso do qual é extremamente difícil sair.

Já repararam que no supermercado a carne é dos alimentos mais baratos que existem? Já lá vai o tempo em que a carne era cara. Hoje em dia ainda se tem muito a ideia de que a carne é cara, mas na verdade não é. Basta ver os rótulos nas embalagens no talho do supermercado. É barata, e isso vê-se também na quantidade enorme que existe nos expositores para venda, na grande quantidade que as pessoas compram e no facto de a maior parte das pessoas comer carne todos os dias.
Podemos também reparar na área de restaurantes de qualquer Centro Comercial. Todos, mas mesmo todos os restaurantes servem carne! Não imaginam a angústia que eu sinto quando quero almoçar num Centro Comercial e tenho que escolher um restaurante. Acabo a comer sempre o mesmo: ou uma massa feita à medida num italiano ou uma salada de cuscus feita à medida no Go Natural.

É commumente assumido que todas as nossas refeições têm que conter uma proteína animal.  E quem é vegetariano é olhado com estranheza e todas as pessoas se sentem no direito de fazer comentários sobre o perigo que isso é e o disparate que se está a fazer, e como se vai ficar com carências. Não há paciência.
Acredito que com o tempo esta mentalidade vai mudar, vai evoluir, e talvez daqui a algumas décadas o estranho seja comer carne todos os dias e quem o faça seja olhado como quem polui e destrói os recursos naturais.
Comer carne todos os dias não é sustentável e essa é a primeira forma de pensar que tem que mudar. A partir daí, aos poucos, virá o resto.

Então e para isto é preciso deixar de comer carne completamente? Eu acho que não. O que é preciso é haver um equilíbrio com a Natureza. É possível fazer uma alimentação com base vegetal e comer alguma carne de vez em quando. Essa carne é possível ser criada de forma natural, extensiva, em harmonia com a natureza. Animais criados ao ar livre, com espaço, com respeito pelo seu ciclo de vida, com respeito pela sua saúde, que pastam em vez de serem alimentados exclusivamente com ração, que quando precisam de ração esta não contém aditivos para incentivar o seu crescimento anormal ou medicamentos para evitar doenças. E que quando são abatidos, isso é feito com respeito pelo seu não sofrimento.
As palavras chave aqui são natural, sustentável e respeito.

Afinal como eu disse mais acima, os animais são benéficos para a agricultura, pois ajudam a fertilizar os solos, e ajudam a limpar os terrenos ao pastar. Por isso podemos todos fazer parte de um ciclo sustentável, em que comemos as plantas que foram fertilizadas pelos animais, que por sua vez viveram uma vida natural e boa, pastando e transformando as plantas que comem em proteína animal, que nós um dia mais tarde iremos comer. Porque a verdade também é que é da nossa natureza como seres humanos sermos omnívoros, e comermos carne.
Tem é que ser com equilíbrio.

Então e no fim disto tudo, o que é que eu como e não como?

- O que não como:
Porco, perú, outras carnes que já não comia antes (pato, coelho, caça...), peixes de criação intensiva, carne de vaca e frango de criação intensiva, e produtos animais transformados, processados, como fiambre.
Os porcos são animais extremamente sensíveis e expertos, e a sua criação em modo biológico ainda é rara ou inexistente. Os porcos são criados de forma completamente horrorosa e sofrem as maiores atrocidades. Em conjunto com as vacas leiteiras e as galinhas poedeiras criadas em gaiolas, são dos animais que mais sofrem. Para quem quiser ler sobre os porcos criados para consumo, ver por exemplo aqui.

- O que tento não comer, mas é difícil pela sua presença em quase todos os alimentos:
Lacticínios e ovos. Soja como componente das refeições.
Há muito tempo que abolimos o leite de vaca cá em casa. O leite materno de qualquer animal serve para alimentar os seus bebés. O leite serve para fazer crescer bebés. Não faz falta às crianças nem aos adultos e o leite de vaca faz mal à nossa saúde. Além disso as vacas leiteiras são dos animais que mais sofrem. Desde que fui mãe e vivi a experiência da amamentação que passei a olhar para o leite de vaca e para as vacas leiteiras de outra maneira, e muitos argumentos que eu dantes punha de parte como absurdos, passaram a fazer sentido. Um dia destes escreverei um post sobre este assunto.
Portanto o leite de vaca não entra cá em casa nem o consumimos fora de casa, bem como iogurtes, queijo e outros lacticínios. No entanto, em Portugal ainda não é fácil ser vegan, por isso muitos alimentos que compro contêm leite (como a margarina), e ir a uma pastelaria ou restaurante e comer um bolo que não contenha leite, iogurte ou ovos é quase impossível.
Os ovos de criação em gaiolas também já não entram cá em casa há séculos. Costumava comprar ovos biológicos com regularidade, mas parei desde que li sobre o que acontece aos pintainhos machos que nascem de ovos destinados à criação de galinhas poedeiras, mesmo no modo biológico (leitura diversa aqui). Assim, muito de vez em quando compro uns ovos biológicos para fazer um bolo de aniversário. E quando o faço, compro ovos de pequenos produtores portugueses no Brio.

- O que como de vez em quando:
uns meses atrás voltei a comprar carne cá para casa, por causa do meu filho. Carne biológica de vaca e de frango, que compro no Brio ou no Supercor. A carne de vaca compro da Elipec, e a de frango compro do Bosque Biológico.
Em Agosto encontrei o dono da Bosque Biológico no Brio e fiquei de o contactar um dia destes para irmos fazer uma visita à quinta. Gostava de levar os meus filhos a conhecer uma quinta com animais, e quero ver como é que os animais são criados, como vivem, e assim fazer as pazes com a minha própria consciência quando compro carne e a como. Também quero fazer o mesmo com a Elipec, que é um agrupamento de produtores de Pecuária do Alentejo.
Quero ver de onde vem a carne que compro, quero saber como são criados os animais, quero saber o que como e o que dou a comer aos meus filhos.
Também compro e como de vez em quando peixe. Peixe que não vem de aquicultura, de preferência de pesca local e sustentável. E atum de pesca sustentável com o selo Dolphin Safe.

Assim, não me posso chamar de vegan ou vegetariana ou qualquer outro nome deste género. Sou conscienciosa daquilo que como, sou extremamente restritiva em relação a umas coisas e flexível em relação a outras. Procuro um equilíbrio, que me permita viver de consciência tranquila em relação à Natureza, ao planeta, aos animais, à nossa saúde, ao mundo que vou deixar um dia aos meus filhos.

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